A Alma do Pequeno Príncipe
A ALMA DO PEQUENO PRÍNCIPE
Duração: 4’10”
FÁBIO MOTTA: Eu não trabalho, eu não vivo num hospital. Eu vivo numa utopia. Que eu considero isso daqui uma utopia. Pelo menos pra gente que vem de uma realidade médica né, no Rio de Janeiro. Você não imagina que possa existir algo desse jeito, não imagina mesmo. Só é possível você ter dimensão do que é essa estrutura quando você entra pra trabalhar. E é inimaginável como uma estrutura voltada praticamente para atender SUS, o que se pode fazer aqui com tanta rapidez, tanta efetividade, assertividade.
LEO CAVADAS: E quando eu cheguei aqui eu vi o filho do deputado estadual do lado do filho da agricultora do interior do Paraná. E isso pra mim foi chocante, agradavelmente chocante. Foi muito legal. Eu demorei um tempo pra digerir isso. Foi muito legal.
JORGE LEDESMA: Me agrada atender SUS. Eu tô fazendo a diferença. Me sinto bem em trabalhar com isso. Não é demagogia, não é discurso. E eu gostaria que o Hospital continuasse com esse viés.
LANIA ROMANZIN: O Pequeno Príncipe, já com a Ety mãe, tem um relacionamento com os médicos e faz com que isso perpetue entre os médicos residentes, enfim, todo mundo aqui tem o seu potencial, a sua obrigação, o seu dever, mas todo mundo tem que ter o comprometimento com a criança.
MÁRCIA BANDEIRA: E o Pequeno Príncipe sempre teve alguma coisa que era muito diferente. Não só o tratamento com o paciente, o foco na criança, mas o tratamento interpessoal. A relação dos médicos com os acadêmicos, a relação da enfermagem com os médicos, com os acadêmicos, com a recepção.
Então assim, parecia sempre uma grande família. E eu acho que isso foi um dos que me inspirou a ficar no Pequeno Príncipe.
RITA LOUS: Já existia no hospital sempre um berço, uma essência de humanização, no sentido das pessoas terem muito respeito por quem se interna, pelas mães, pelas crianças, por todo mundo. Mas, assim, só trabalha aqui quem consegue ser assim. Não existe outro jeito. É o jeito Pequeno Príncipe, pra mim é esse. E que a gente sabe que a Dona Ety constituiu desde o início, porque é uma pessoa maravilhosa. Se você conversa com ela você lava a alma.
PATRICIA RAULI: Ai! A minha mãe é o coração e a alma do Pequeno Príncipe! A primeira coisa que eu penso é assim: que minha mãe foi uma mulher, e continua sendo, à frente do seu tempo. Ela começou o trabalho
voluntariado quando poucas pessoas faziam isso, e ela deu um salto na perspectiva de ser voluntário. Porque ser voluntário, durante muito tempo, era apenas ir cantar pras crianças, ou sei lá, fazer uma atividade num asilo. E ela trouxe fortemente a ideia de que ser voluntário é dar o melhor, é dar o seu conhecimento para transformar a realidade. E a minha mãe sempre teve um entendimento de que a realidade, ela é feita por todos nós. Ela também, sempre teve a visão, que acho que é uma das coisas mais maravilhosas e que ela implantou que é assim: o direito das crianças, de que todas as crianças tem os mesmos direitos. Numa época em que isso não era… hoje em dia a fala dos direitos, depois do Estatuto dos Direitos da Criança e do Adolescente, isso parece já lugar comum. Mas quando ela falava isso há cinquenta anos atrás, não era, havia realmente uma cisão na forma de atender uma criança carente e atender uma criança mais abastada. Então pra ela, assim, ela fala as vezes que “todas as crianças deveriam ser tratadas como pequenos príncipes”, isso é muito lindo.